O que é seletividade alimentar no autismo?
A seletividade alimentar no autismo é uma das dificuldades sensoriais e comportamentais mais comuns entre crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela se caracteriza pela recusa persistente de certos alimentos, baseando-se na cor, textura, cheiro, temperatura, formato ou até forma de apresentação da comida.
Por que a seletividade alimentar é tão comum em crianças com autismo?
Existem vários fatores que explicam por que as crianças autistas podem ter uma alimentação extremamente restrita. Os principais são:
- Hipersensibilidade sensorial
Crianças com TEA podem apresentar reações intensas a estímulos táteis, gustativos, olfativos e visuais. Isso faz com que alimentos com determinada textura (como grãos, cascas, cremosidade) ou cheiro provoquem desconforto real.
- Rigidez comportamental
A tendência ao apego a rotinas e à previsibilidade também se manifesta na alimentação. A criança pode comer sempre os mesmos alimentos, preparados da mesma maneira, no mesmo prato e até na mesma posição à mesa.
- Associação negativa
Uma experiência ruim com um alimento (como engasgar ou passar mal) pode fazer com que ele seja rejeitado permanentemente, mesmo após muito tempo.
- Déficits de comunicação
Crianças não verbais ou com comunicação limitada podem demonstrar suas dificuldades alimentares por meio de comportamentos como crises, choro, empurrar o prato ou simplesmente não comer.
Quais são os sinais de seletividade alimentar no TEA?
– Aceitação de apenas 5 a 10 alimentos
– Preferência por alimentos de uma mesma cor ou textura
– Recusa total de grupos alimentares (como frutas, vegetais ou proteínas)
– Rejeição de alimentos misturados (ex: arroz com feijão)
– Crises ou resistência na hora das refeições
– Refeições apenas com determinados utensílios ou marcas específicas
Quais os riscos da seletividade alimentar?
A seletividade alimentar pode levar a:
- Deficiências nutricionais(ferro, cálcio, fibras, vitaminas)
- Problemas gastrointestinais(constipação, refluxo)
- Queda de imunidade
- Dificuldades no crescimento e desenvolvimento
- Estresse familiar durante as refeições
Como ajudar uma criança com seletividade alimentar?
- Crie uma rotina alimentar estruturada
-
- Horários definidos para refeições e lanches
- Ambiente tranquilo e sem distrações
- Evite forçar ou punir — isso gera resistência
- Faça exposições gradativas
-
- Apresente o alimento novo visualmente antes de colocar no prato
- Permita que a criança toque e explore o alimento sem obrigação de comer
- Use o método de dessensibilização alimentar, aumentando o contato de forma progressiva
- Varie a apresentação dos alimentos
-
- Altere o formato (cubinhos, palitos, purê, panqueca)
- Use moldes divertidos ou pratinhos temáticos
- Misture alimentos já aceitos com os novos, mantendo sempre uma parte “segura”
- Trabalhe com profissionais especializados
-
- Nutricionista infantil ou comportamental para ajustar o cardápio e suplementar quando necessário
- Terapeuta ocupacional com enfoque em integração sensorial
- Fonoaudiólogo e psicólogo podem ajudar na comunicação e resistência comportamental
O que não fazer:
🚫 Não force a criança a comer
🚫 Não use comida como punição ou recompensa
🚫 Não compare com irmãos ou outras crianças
🚫 Evite substituir todas as refeições por alimentos ultraprocessados apenas para “não deixá-la com fome”
A seletividade alimentar pode melhorar?
Sim! Com intervenção precoce, estratégias consistentes e apoio profissional, a grande maioria das crianças com autismo melhora a aceitação alimentar. O processo pode ser lento, mas cada avanço deve ser valorizado.
Conclusão
A seletividade alimentar no autismo é mais do que uma “manha” ou “fase”— é um desafio real, que precisa de olhar clínico, paciência e apoio multidisciplinar.
Quanto mais cedo for identificada e tratada, menores serão os impactos nutricionais e emocionais.
Compartilhe esse conteúdo!
Muitas famílias enfrentam esse problema em silêncio. Divulgar informações de qualidade ajuda a desmistificar o tema e a conectar pais com soluções reais.