Introdução
A alimentação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos desafios mais comuns enfrentados por pais e cuidadores. Questões como seletividade alimentar, resistência a novas texturas e comportamentos rígidos à mesa fazem parte da rotina de muitas famílias. Neste artigo, vamos explicar como funciona a terapia alimentar, quais profissionais estão envolvidos, quais estratégias são mais eficazes e como ela pode transformar a relação da criança com a comida.
O que é a Terapia Alimentar no Autismo?
Terapia alimentar é um conjunto de abordagens terapêuticas voltadas para melhorar a relação da criança com os alimentos. No caso de crianças com TEA, ela vai além do ato de comer — envolve aspectos sensoriais, comportamentais, motores e até emocionais.
Envolve profissionais como:
- Terapeuta ocupacional
- Fonoaudiólogo especializado em motricidade orofacial
- Nutricionista especializado em autismo
- Psicólogo infantil
Por que crianças com autismo têm dificuldades alimentares?
Estudos mostram que entre 46% e 89% das crianças com autismo apresentam seletividade alimentar. As causas são multifatoriais:
- Hipersensibilidade sensorial (textura, temperatura, cheiro)
- Rigidez comportamental
- Ansiedade frente ao novo
- Dificuldades motoras orais
- Histórico de refluxo ou alergias alimentares
O Papel do Terapeuta Ocupacional na Terapia Alimentar
O terapeuta ocupacional trabalha os aspectos sensoriais e motores da alimentação. Algumas abordagens comuns incluem:
– Integração sensorial (acostumar a criança com diferentes texturas e temperaturas)
– Uso de utensílios adaptados
– Estimulação oral não nutritiva (como brincadeiras com a comida)
A Nutrição e a Seletividade Alimentar
O nutricionista avalia se há deficiências nutricionais e desenvolve estratégias para:
- Introduzir alimentos com aparência, cor ou formato semelhante aos preferidos
- Incluir nutrientes por meio de preparações adaptadas
- Acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança
Exemplo prático:
Uma criança que só come alimentos brancos (arroz, pão, leite) pode começar a experimentar alimentos como purê de couve-flor, pão de queijo com chia, ou batata-doce branca.
Aspectos Psicológicos da Alimentação
A recusa alimentar pode gerar:
- Ansiedade nos pais
- Pressão durante as refeições
- Quadro de aversão alimentar extrema
O psicólogo infantil ajuda a trabalhar a relação emocional da criança com a comida, além de oferecer suporte aos pais.
Técnicas e Estratégias Comprovadas
- Food Chaining: Introdução gradual de alimentos com base nos preferidos
- Exposição repetida:Apresentar o mesmo alimento de formas diferentes
- Reforço positivo: Elogios e recompensas por pequenas conquistas
- Brincar com a comida: Estimulação sem pressão
O que os pais podem fazer em casa
- Respeitar o tempo da criança
- Criar uma rotina alimentar previsível
- Evitar distrações (TV, tablet) durante as refeições
- Não forçar a comer
- Comemorar pequenas vitórias (cheirar, tocar, provar)
Quando procurar ajuda profissional?
Se a criança:
- Come menos de 15 tipos de alimentos
- Reage com choro, vômito ou agressividade à comida nova
- Tem perda de peso ou atraso no crescimento
- Tem recusa alimentar persistente por mais de 2 meses
É fundamental procurar uma equipe multidisciplinar especializada em TEA e alimentação.
Alimentação e Suplementação no TEA
Alguns estudos indicam que crianças com autismo podem se beneficiar de ajustes na dieta:
- Dietas sem glúten e caseína (casos específicos)
- Suplementos de ômega-3, vitamina D, zinco e magnésio
- Mas nunca devem ser feitos sem orientação médica ou nutricional.
Conclusão
A terapia alimentar na criança com autismo vai muito além da nutrição. Ela é uma ferramenta poderosa de inclusão, autonomia e qualidade de vida. Com paciência, apoio profissional e estratégias adequadas, a alimentação pode deixar de ser uma batalha para se tornar uma experiência positiva e prazerosa.